CAMINHANDO JUNTO
AO FERIDO
por Ingrid Lawrenz,
MSW
Recentemente,
nossa igreja foi abalada por duas mortes prematuras, ambas por câncer. Uma
delas foi a de um jovem pai de três, e a outra a de uma jovem mãe de três. A
dor era real, quando família, amigos e pastores choravam abertamente em cada
funeral. Mas os dois crentes terminaram bem. Seu tempo na terra foi gasto em fé
inabalável. Eles foram visivelmente abençoados pelos irmãos que os cercaram de
amor. Eles morreram embalados pelos braços de seus amados. Por dias, enquanto
um cristão está morrendo, o véu entre esta vida e a próxima é tão fino que o
moribundo pode sentir a presença e paz do Deus Onipotente. Por fim Jesus vem e
toma suas mãos, atraindo a pessoa para Si.
A
elaboração do luto é um esforço árduo. Quando é bem vivido, o dom da graça de
Deus é experimentado em abundância. Vivenciar o luto não demonstra falta de fé;
mostra, pelo contrário, a profundidade do amor. Jesus chorou por causa de
Lázaro. Líderes de igreja precisam ser modelos nisso, dispondo-se a entregar
seus corações, e não só suas mentes, às suas congregações. Muitos líderes
cristãos erradamente suprimem suas emoções com a intenção de parecer fortes
espiritualmente. Será que eles não estão mostrando, isso sim, falta de fé por
não confiarem que Cristo os susterá firmemente no momento em que a dor e a ira
profunda vierem à tona?
Na verdade
há pessoas que evitam vínculos amorosos e relacionamentos mais profundos por
medo de serem feridos ao entregar seu amor a alguém. Mas a Bíblia diz que o
perfeito amor lança fora todo o medo (I Jo. 4.18). Alguém pode achar que
provavelmente não suportaria passar pelo sofrimento que vê outros passarem. No
entanto, até o momento em que Deus te pedir para passar pelo vale da sombra,
você não possui a graça que Ele derrama sobre aqueles que já estão lá.
C. S.
Lewis, em seu livro Os Quatro Amores, descreve pessoas têm tanto medo de
serem feridas pelo amor que preferem uma vida de solidão. Ele diz que é verdade
que se você der seu coração ao que quer que seja neste mundo, você se ferirá,
porque morte, doença e separação são realidades próprias deste mundo. Portanto
o único lugar para onde você poderia fugir para não ser ferido pelo amor é o
Inferno, porque no Inferno não existe amor.
Elaborar o
luto é como ajuntar pedras espalhadas em uma pilha, semelhante ao que os
israelitas faziam quando levantavam uma torre ou montão de pedras em memorial.
Cada oração, cada lágrima derramada, cada anotação no diário, cada abraço, cada
momento de raiva processada é uma pedra. Cada pedra nos leva mais perto da
aceitação e resolução. Se você não lida com suas emoções, seu corpo chorará por
você. Doenças causadas por estresse surgirão. Lágrimas são como um banho que
limpa a alma. Elas curam.
Eclesiastes
7.2 diz-nos que é melhor ir a um funeral do que a uma festa. Eu acho que é
porque a agonia profunda da alma nos faz reconhecer que nós não passamos de
flores fugazes. O amor de Deus e Jesus Cristo são realidades absolutas. O véu
entre este mundo e o próximo se torna mais transparente em um funeral.
Enfrentar
abertamente a própria morte é o último passo para abrir mão de nosso
narcisismo. Todd Beamer compreendeu isso quando ele voluntariamente entregou
sua vida em favor de outros no malfadado avião em 11/09/01. Quando você for capaz
de dizer: “para mim o viver é Cristo e o morrer é ganho”, é porque a sua vida
está tão mergulhada na vida de Cristo que não existe mais aquela proteção
narcisista segurando as pontas. Quando se leva a vida de mãos abertas, todos os
relacionamentos são vistos à luz da eternidade e os bens materiais são mantidos
sem apego, com uma disposição de renúncia. Vivendo assim é que se encontra paz
e liberdade verdadeiras. É por esta razão que a jovem mãe que morreu
recentemente pôde dizer em seu testemunho que os dois últimos anos de sua vida
foram os melhores, e que ela não gostaria de voltar a viver do modo como vivia
antes disso. Ela recebeu amor dos outros abundantemente. As prioridades foram
colocadas em seus lugares e a paz sustentadora de Deus tornou-se tangível.
Nós
precisamos construir comunidade, comunhão, família e amizades em nossas igrejas
enquanto estamos bem. O corpo de Cristo precisa se fortalecer para poder
sustentar seus membros quando estão sofrendo. Se toda vulnerabilidade,
autenticidade e emoções são evitadas, o corpo se enfraquecerá. As pessoas irão
sofrer e passar pelo luto sozinhas quando tragédias as atingirem. Que razão
melhor há para se promover a comunhão nos grupos pequenos, apoio aos enlutados
e outros tipos de ministério para equipar melhor o corpo de Cristo a fim de
amar e cuidar dos feridos e enlutados?
Deus nos
fez para precisarmos uns dos outros. Eu creio que a Igreja precisa construir
uma ponte entre as necessidades dos indivíduos e suas necessidades relacionais.
Quando chegar o tempo de eu morrer, quero ser sustentada e cercada por pessoas
amadas. Você não espera o mesmo?
Ingrid Lawrenz é a esposa
do pastor principal da Igreja Elmbrook em Brookfield, Wisconsin. Ingrid
trabalha no serviço social clínico na New Life Resources, um ambulatório
cristão de saúde mental. Ela e seu marido Mel têm dois filhos.
Tradução de Eliane Ester
de Souza